Nessa casa
também brinquei muito com as minhas primas Zezinha e Tatão durante
o tempo em que lá viveram antes de irem para Angola com os pais.
Os meus avós maternos em 1953
7. A AVÓ
VELHINHA
A
avó velhinha era avó do meu pai e vivia na rua Roberto Ivens com um
casal de primos do meu pai. Era mesmo velhinha, pois faleceu com 111
anos, em 1950. Lembro-me de a visitar com a minha mãe mas, o que
melhor recordo é que, pelo Natal, íamos levar-lhe Bolo-Rei e na
Páscoa o Pão-de-Ló e amêndoas. Achava-lhe muita graça porque ela
punha logo uma amêndoa na boca sem dentes e fazia carinhas cómicas.
Esta
avó foi notícia no jornal no dia em que fez 105 anos pelo facto de
ainda fazer renda sem necessitar de óculos.
A minha bisavó paterna no Jornal "A Voz de Matozinhos"em 1944
8. OS
PICNIQUES
Os
picniques eram uma constante na nossa família. Talvez porque na
minha infância os meus irmãos eram já jovens adultos, organizavam
grandes picniques em família extensivos aos seus amigos. Realizam-se
em lugares muito aprazíveis ali para os lados de Manhufe ou do Monte
Castêlo.
Havia,
no entanto, um picnique que se realizou anualmente, desde que eu me
conheço, ininterruptamente, enquanto o meu pai viveu. Era no dia 15
de Agosto, em Santa Cruz do Bispo, mais exactamente no Monte de
S.Brás.
O
motivo era uma promessa da minha mãe à Senhora da Saúde, que ela
cumpria fervorosamente, indo a pé, de casa até à Igreja de Santa
Cruz do Bispo para assistir à missa de festa; de início com o meu
irmão ao colo, visto que a promessa era pela saúde dele, muito
precária enquanto pequenino, depois pela mão e, pela força da sua
fé, assim continuou, anos fora, até caminhar amparada pelo seu
braço forte e saudável. Quando já não era humanamente possível
cumprir a promessa a pé, o meu irmão passou a levá-la de carro
para assistirem à missa. E assim foi até aos seus maravilhosos cem
anos.
Voltando
ao picnique _ então a família e amigos aproveitavam esse dia e
todos seguiam a pé, com os cestos do merendeiro, o garrafão e tudo
o que era necessário para um dia bem passado ao ar livre. A
miudagem, onde me incluía, carregávamos almofadas e liteiros e
fazíamos o caminho cantando e rindo na maior alegria. Chegados a
Santa Cruz, paragem para descanso. Os que tinham interesse em
assistir à missa entravam logo na igreja, porque não era fácil
arranjar lugar sentado já que a missa era de festa, o sermão bem
longo e, demorava duas horas. O restante pessoal, ou ficava pela
Quinta do Bispo ou ia andando para o Monte de S.Brás onde se
realizava o picnique. O repasto só começava depois das 13,30 h,
quando chegavam a minha mãe, o meu irmão e quem os acompanhava. Oh!
Maravilha. O arroz de açafrão chegava lá quentinho, no tacho bem
embrulhado em panos e depois em jornais. Os variados acompanhamentos,
quentes ou frios, conforme o que era destinado previamente, o certo
é que, tudo sabia pela vida. O melão, a melancia e a regueifa
eram comprados junto à igreja, já que, sendo dia de festa, havia lá
uma feirinha. Acabada a refeição, uns dormiam, outros faziam jogos,
dançar, cantar, subir a escadaria até ao Homem da Maça _ era tudo
à vontade de cada um. Mas o melhor da festa, para mim, vinha depois,
no regresso. Cestos arrumados, investigação ao local para que não
ficasse o mínimo vestígio, descíamos até ao Rio Leça, ali bem
perto, e chegados ao moleiro atravessávamos a pequena ponte para
subir depois o monte, autentico corta mato, até ao apeadeiro do
comboio que nos trazia até à Estação de Leixões. Recordo uma vez
em que o rio ia muito cheio e passava sobre a ponte, tivemos que nos
descalçar para a passar, mas a minha avó, que usava sempre meias,
mesmo em Agosto, não se quis descalçar e passou a ponte numa
cadeirinha feita a quatro mãos de dois dos homens do grupo.
A
viagem de comboio era uma aventura. Além da tralha que trazíamos de
volta, ainda colhíamos ramos de eucalipto, urze e alecrim dos campos
por onde passávamos.
Mas
o dia ainda não chegara ao fim _ apeados do comboio, atravessávamos
a estrada e em frente voltava a ser campo e que lindo que era, sob a
luz do entardecer. Voltávamos a assentar arraiais para dar cabo do
que restava do farnel. Ao lusco-fusco, com os cestos vazios,
regressávamos então, cada qual a sua casa, felizes por um dia bem
passado.
Este
era o procedimento habitual, do dia 15 de Agosto, diferindo apenas no
número de pessoas: a família ia sempre, os amigos é que poderiam
ser em maior ou menor número. Mas houve um ano, teria eu 6 ou 7
anos, foi diferente porque tive de integrar a procissão vestida de
anjinho: o meu tio João estava muito doente. Então a minha mãe,
com a sua devoção na Senhora da Saúde, de Santa Cruz do Bispo,
como já citei, prometeu, pelas suas melhoras, levar-me de anjinho,
na procissão daquele dia de festa mas, com a condição de o meu tio
pagar os meus sapatos. Esta história era contada muitas vezes, com
graça, já que o meu tio, que não tinha tanta fé, mas queria
curar-se, disse logo que sim, que pagaria os sapatos que ela
escolhesse. Ele curou-se e eu ganhei os sapatos mais bonitos até
aquela data _ de verniz branco, impecáveis.
Picnique na Ponte do Carro em 1950
Picnique no S. Brás
Procissão em Santa Cruz do Bispo em 1949
9. OS MEUS
IRMÃOS
Dos
meus queridos irmãos guardo as mais ternas recordações. Pela
grande diferença de idades, desde sempre me dispensaram um carinho
enorme que eu sempre retribuí com todo o amor, como se fossem os
meus segundos pais.
Ao
meu irmão, sempre tratei por Zé, enquanto que, à minha irmã _ a
Quininha _ sempre tratei por mana. Ainda hoje é assim.
A
mana sempre cuidou de mim: preparava-me para ir para a escola,
confeccionava a minha roupa e, que lindos vestidos ela me fazia,
muitas vezes com o aproveitamento de roupas usadas, dela própria ou
da minha tia Fernanda, ou de tecido novo quando era para estrear nas
festas: Natal, Páscoa e Senhor de Matosinhos _ tinha sempre direito
a roupa nova.
Os
meus pais raramente faziam férias, mas a mana e eu íamos para casa
de amigos passar alguns dias. Apesar dela já ser adulta, os nossos
pais não a deixavam ir sozinha, daí a minha sorte, que bem gostava
de a acompanhar: ora numa casa de lavoura, em Leça do Balio, onde
acompanhávamos todo o trabalho desde a apanha de fruta e legumes,
alimentar os animais, recolher os ovos e, o melhor da festa – a
desfolhada no fim do Verão, ora em Penafiel ou Lousada mas, as
melhores férias, eram as de Leça do Balio.
Pela
minha parte, a único serviço que prestei à mana, foi servir-lhe de
“pau de cabeleira” quando ela estava a namorar. Não sei se ela
gostava muito, mas era uma imposição da nossa mãe.
O
Zé começou cedo a trabalhar e, além dos mimos que me dispensava,
oferecia-me o que eu mais gostava desde que aprendi a ler _ livros
infantis. Troquei de boa vontade os brinquedos pelos livros e sempre
que podia, refugiava-me com eles no meu cantinho predilecto, onde
havia um pequeno sofá e um candeeiro de pé, feito com canas da
Índia, pelo meu próprio irmão que era _ e ainda é _ muito
habilidoso. Recordo dessa altura, peças de decoração em ferro
forjado e um cão quebra nozes que ainda existe. O seu bom humor
animava as festas em família assim como o nosso dia a dia _ ele
contava anedotas, cantava, fazia poemas que adaptava a músicas então
em voga, ora brejeiros, ora mais elaborados se se destinavam às
festas da JOC (Juventude Operária Católica) à qual pertencia. Um
dia surpreendeu-nos quando decidiu fazer cerveja. Também aí se saiu
muito bem.
Profissionalmente
o Zé era electricista. Um dia, ouvi uma conversa entre os meus pais
e a minha irmã, sobre um jovem electricista que, estando a
desempenhar o seu trabalho, sofreu um acidente e morreu
electrocutado. Sabendo que o meu irmão tinha a mesma profissão,
fiquei de tal maneira assustada que, a partir daí, sempre que ouvia
uma ambulância, o meu coração batia mais forte e rezava para que
nada de mal lhe acontecesse. Este sentimento acompanhou-me por longos
anos e presentemente, muito mais desvanecido, ao som da ambulância
ainda associo essa ideia. Felizmente a sua carreira profissional
sempre correu bem e aposentou-se feliz e de boa saúde.
Eu e os meus manos em 1953
10.
FUTEBOL, CINEMA, PESCA À LINHA, ETC.
Para
todos estes passatempos eu era a companhia do meu pai. E como eu
gostava de ir com ele ao antigo campo de Santana, ver o nosso
Leixões. Apesar dele ser mais leceiro, íamos mais vezes ver o
Leixões que o Leça.
Às
cowboiadas no Constantino Nery, era eu que o acompanhava. A minha mãe
e a minha irmã só gostavam de ir ao cinema para ver o Errol Flinn,
Fred Astair, Ginger Rogers, Pedro Infante e outros do género
naquela época. É claro, os bilhetes eram gratuitos e os lugares
cativos _ fila 9 – nº 3,5 e 7 graças à magnanimidade do Sr
Sousa.
Também
na pesca à linha, quando o tempo estava agradável, lá ia com ele,
paredão fora, na Cucciolo, até à ponta do molhe sul. Vínhamos com
muitas fanecas no cacifo, lindas, douradas que agradavam muito à
minha mãe.
Um
pouco mais tarde, devia eu estar já na pré-adolescência, comecei a
acompanhar o meu pai aos eventos da Câmara de Matosinhos,
normalmente apresentados no Posto de Turismo, que consistiam em
concertos e exposições que eu adorava.
A Cucciolo (na época tinha uma almofada na grade bagageira onde eu me instalava
11. O NATAL
O
Natal da minha infância foi, durante mais tempo do que seria
suposto, uma quadra de sonho. Eu acreditei que era o Menino Jesus
quem punha os presentes no sapatinho. Por mais que as minhas colegas
da escola primária me dissessem que eu estava a ser enganada, eu não
acreditava nelas. “Na
minha casa é mesmo o Menino Jesus, só pode”. E
argumentava que a minha mãe sempre me dizia que não se podia
comprar, isto ou aquilo, que era muito caro, que não havia dinheiro
para essas coisas, enfim, durante todo o ano eu bem podia pedir
brinquedos...não havia. Chegava o Natal o Menino dava-me tudo o que
eu tinha pedido. Então no ano em que recebi a boneca mais bonita que
eu tinha visto no Bazar Galante e que nem ousei pedir, só olhava, aí
não tive dúvidas, a minha mãe nunca a compraria. Perante estes
argumentos as minhas colegas desistiam e diziam entre elas _ Ele
à minha casa não vai, eu sei que é a minha mãe.
Para
ajudar esta minha crença, toda a família armava o cenário
conveniente e, à distância, consigo aperceber-me de quanto eles se
divertiam: começava a época natalícia e a minha mãe e a minha
irmã saiam muitas vezes de casa mas não me deixavam acompanhá-las
_ “ficas em casa
à espera do perú que alguém cá vem trazer”_
e eu ficava. Foi assim ano após ano. O perú nunca me foi entregue.
Quando chegava era a minha mãe que o trazia.
O
avô General também fazia o teatro dele: era o último a chegar à
ceia porque saía tarde da fábrica. Então entrava na sala a correr
dizendo que tínhamos de nos despachar porque já tinha ouvido os
sininhos lá para os lados da fábrica, pelo que o Pai Natal estava
perto. Perante a minha ansiedade ele dizia “calma
que são muitas casas onde ele tem de entrar, ainda vai demorar”.
Só
por volta dos meus 8 anos é que começaram a deixar de tentar
enganar-me e devo confessar que senti uma grande desilusão, não só
pela perda daquela magia mas também por sentir que tinha sido mais
pateta que as minhas colegas.
12.
A PRÉ-JOC
Talvez
porque o meu irmão pertencia à Juventude Operária Católica, eu
também quis pertencer e lá me foram inscrever. Aos domingos, depois
da missa das 10 horas, íamos para a residência do pároco de
Matosinhos, ainda não existia Salão Paroquial, onde se faziam as
reuniões. Como era muito miúda fiquei numa classe intitulada
“Benjaminas” integrada na pré-JOC. Enquanto durou essa condição,
as reuniões pouco me diziam, mas o convívio era agradável. Mais
tarde, já a sério, era preciso estar com atenção e até prestar
provas em temas que tinham a ver com formação cívica e moral. Mas
o bom de festa eram mesmo “as festas”. _ Cantávamos, dançávamos,
recitávamos, ensaiávamos peças de teatro, era uma animação.
Foi através deste grupo que comecei a sair um pouco de
debaixo da asa da mãe.
Faziam os chamados “retiros” sobre determinados
temas, previamente tratados nas reuniões mas, o que melhor lembro,
era a parte lúdica _ uma vez foi no Liceu D.Manuel II, outra num
edifício em frente ao Palácio de Cristal outra ainda no Liceu
Luso-Francês _ em todos, após as cerimónias e as palestras, almoço
e tardes de jogos e brincadeira.
13.
O CICLO PREPARATÓRIO
Começava uma nova e importante etapa da minha vida.
Contrariando a vontade da minha mãe que não me queria tanto tempo
fora de casa, que queria que eu aprendesse costura e, como ela dizia,
coisas de menina, eu apoiava-me no meu pai, que sempre me incentivou
a estudar e vinha em meu auxílio sempre que surgia algum entrave por
parte da minha mãe. Sei que não o fazia por mal – era uma
questão de cultura _. Até aí, na família, só os homens iam além
da instrução primária. Foi assim com as minhas primas mais velhas
do que eu. Só a partir de mim se rompeu a essa barreira e,
felizmente, todas passaram a prosseguir estudos.
Tive a sorte entrar no ciclo no ano em que foi
inaugurada a Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, no Palacete
Visconde de Trevões. Tive professores maravilhosos e óptimos
colegas, num ambiente de camaradagem e entre-ajuda que me faz
recordar esses tempos com saudade.
O gosto e especial interesse de alguns dos professores
nas actividades extra-curriculares, levaram a que a direcção da
escola contratasse um actor do Teatro Experimental do Porto, o Sr.
Ferreira, creio que aposentado, devido à sua idade, para preparar os
alunos, para as diversas festa que ali se faziam, principalmente no
Natal e no fim do ano lectivo. Tive a honra de participar em tudo:
recreação de quadros históricos, declamação de poemas de Camões
e Fernando Pessoa entre outros; bailados e folclore, para o que
também contrataram uma professora nessa área, a
Menina Celina que era acompanhada ao piano pela Senhora
sua mãe; e ainda no coral da escola, a cargo da professora da
disciplina de Canto Coral. O nosso grupo coral além de abrilhantar
as festas da Escola, participou também em missas de festa na Igreja
de Matosinhos, com muito sucesso.
Ainda em relação ao teatro recordo que também os
cenários eram produto interno, para o qual colaboravam os mestres
das oficinas _ Mestre Custódio e Mestre Victor.
Ao 3º ano da escola deixamos de ver o Senhor Ferreira,
mas tivemos o privilégio de passar a ser dirigidos pelo grande actor
João Guedes.
14.
A MOCIDADE PORTUGUESA
No
ano em que a escola foi inaugurada e, até talvez no ano seguinte,
não havia Mocidade Portuguesa Feminina. Só masculina. Era vê-los
todos garbosos, nas suas fardas, ao sábado de manhã, a marchar ao
som dos tambores e a treinar os procedimentos nas paradas, sob as
ordens do Mestre Victor.
Um grupo de meninas, habitualmente muito bem
comportadas, no qual eu me incluía, decidiu imitá-los e, a uma
distância considerável, lá íamos fazendo o mesmo que eles.
O Mestre Victor não gostou, entendeu que estávamos a
troçar do trabalho dele e, vai daí, dirige-se ao Gabinete do
Director onde apresentou queixa do nosso grupo.
Todas ao Director. JÁ!! Disse a contínua _ Menina
Guilhermina _ aterrorizadas, lá fomos ao gabinete: o Mestre Victor
com cara de mau, que habitualmente não tinha, e o director que nos
conhecia muito bem, pois era nosso professor de Matemática, a
esforçar-se por parecer mau. Quis saber o que nos tinha passado pela
cabeça e entendeu muito bem que o que fizemos não foi por mal,
antes pelo contrário. No fim de contas, o que queríamos era também
pertencer à Mocidade Portuguesa.
No ano seguinte iniciavam-se na escola as actividades
da Mocidade Portuguesa Feminina. Não era obrigatório mas, para
tomar parte em determinados eventos era necessário comprar a farda.
Por esse motivo, nem todas as que queriam puderam aderir. Mais uma
vez, com a minha mãe contra e com o meu pai a favor, compraram-me a
farda. A minha mãe era contra porque já imaginava que ia ser
motivo para eu estar mais tempo fora de casa. E não se enganou. A
primeira saída foi para o funeral do então Presidente da Câmara _
Dr. Aroso. Foi em Lavra e chovia torrencialmente, daí não ter
esquecido esse dia. Outros eventos e pequenos acampamentos estão um
pouco vagos na minha memória, mas há um que valeu por todos em que
adorei ter participado _ a inauguração do Padrão dos
Descobrimentos em Lisboa _ é que foram uns três ou quatro dias
fora de casa, com amigas, em que a graduada que nos acompanhou era
pouco mais velha do que nós mas conhecia muito bem Lisboa. Ficamos
hospedadas numa instituição cujo nome não recordo, mas que tinha
óptimas instalações onde dormíamos e fazíamos as refeições do
pequeno almoço e jantar enquanto que os almoços eram na cantina do
Instituto Superior Técnico. Além da
zona de Belém, tivemos tempo para conhecer a baixa de
Lisboa e a zona circundante às instalações onde ficamos. Foi uma
experiência óptima.
15.
O ORFEÃO DE MATOSINHOS
Foi, sem dúvida, a minha segunda casa, durante a
infância e adolescência. O meu pai ia lá tomar o seu cafezinho
depois do almoço e do jantar e eu, muitas vezes acompanhava-o. Além
disso, à época, aquela colectividade fervilhava de eventos _ era o
coral com os seus frequentes concertos, os grupos de variedades, o
grupo cénico infantil, ao qual tive a honra de pertencer, os
animadíssimos bailes que provocavam enchentes naquele salão que
tanta saudade deixou aos seus frequentadores. Durante muitos anos a
passagem de ano da minha família foi sempre no OM, assim como o
Carnaval, o S.Martinho e qualquer data que merecesse festejo, lá
estava o Orfeão de portas abertas para bem receber os seus
associados com belos saraus ou simples bailaricos ao som das melhores
orquestras. A tudo eu assistia com o maior agrado. Mas também tomei
parte activa, por vezes. Recordo uma pequena peça de teatro ali
representada pelo grupo cénico infantil _ tratava-se de uma reunião
na corte de D.João V, com o real casal no seu trono, ladeados pelos
príncipes, pagens, bobos, etc. Os convidados entravam em cena
depois de anunciados pelo arauto, todos de sangue azul, é claro.
Apesar de me lembrar muito bem de todos os amigos que participaram,
até porque tenho uma foto do grupo, o nome das personagens está
esquecido, a não ser o meu próprio que, a par do Joel Moreira (que
Deus tenha) formávamos “os Marqueses do Não te Rales” e o da
minha prima Maria Helena que, com o Jorge Moreira formavam “os
Barões do Chega Tarde”. A curiosidade destes nomes é que foram
dados à posteriori , durante os ensaios, de acordo com as
características dos intervenientes: enquanto que os primeiros
entravam em cena com toda acalma do mundo, os segundos entravam
apressados como se algo os perseguisse. Tenho pena de não recordar o
nome das outras personagens mas, já lá vai mais de meio século...
Pelo Carnaval participava sempre nos divertidos
concursos de fantasias.
Mais tarde, já na pré-adolescência, participei no
Concurso do Vestido de Chita, organizado pelo OM do qual guardo a
foto a receber o prémio de 2ª classificada com a respectiva tiara
de princesa.
Grupo Cénico Infantil do OM
Recriação da festa Infantil no pátio da Casa Angola (não havia fotos da récita)
Concurso do Vestido de Chita em 1957
Sendo o propósito deste apontamento relembrar apenas
momentos da minha infância, não dá para alongar mais senão
referir o quanto fui feliz e que devo essa felicidade aos meus
queridos e saudosos pais e aos meus muito queridos irmãos Zé e Mana
(Quina), bem hajam.
Leça da Palmeira, 24 de Janeiro de 2014